Um momento de des-programação/ Reflexões enquanto membro que fui de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

 

No filme "Corra" há uma parte onde o personagem principal, Chris, está em uma festa na casa de sua namorada achando tudo meio estranho. Ele circula por todo canto com sua câmera fotográfica. Em um dado momento do filme, ele topa com um rapaz, André, do qual ele tem uma vaga lembrança de sua adolescência. O rapaz , assim como os outros membros da festa, tem um comportamento robótico, como se estivesse hipnotizado. A fim de conseguir um registro fotográfico de André sem que ele percebesse, o Chris aciona a câmera do seu celular. Porém, para sua surpresa, o flash estava ligado e por alguns segundos, sob efeito da iluminação inesperada, André age normalmente, o agarra com força e grita "CORRA"! "SAIA DAQUI". Logo depois desse "surto", os anfitriões da festa o levam para dentro de casa e ele volta, se desculpando, apresentando o comportamento robótico anterior.

No mormonismo não há hipnose, nem nada do gênero. Porém, há um comportamento um tanto quanto semelhante ao do filme citado. As pessoas agem de maneira robótica. Vide aqui nos comentários dos meus posts, onde os membros SUD vêm afirmar que "a igreja é verdadeira". "Ore para vc saber também". Todo mundo que tem curiosidade sobre o tema "seitas", deveria ir a uma capela Mórmon no primeiro domingo do mês. Acorde cedo e vá. Verá com seus próprios olhos. Visitantes são super bem vindos! Entre, sente e observe o comportamento das pessoas. Algumas pessoas que têm "o desejo" levantam e vão até o microfone repetir a seguinte frase "eu sei que a igreja é verdade". Outra levanta, vai ao microfone e diz "eu também sei que a igreja é verdadeira". Outras ainda mais fervorosas dizem: "eu sei que essa é a única igreja verdadeira na face da Terra". De 10 a 15 pessoas, devido ao recorte de tempo, repetem isso. Se por acaso o fiel se estender nas palavras, ele é censurado posteriormente. Há treinamentos, inclusive, de como usar as palavras corretas ao prestar o testemunho.
E assim, sem perceber, ficamos cada vez mais naturalizado com a cena. Defendemos isso na internet ou pessoalmente, se for preciso. Como Presidente da Primária que fui por seis anos, ensinava crianças muito pequenininhas a decorar hinos com letras do tipo "eu quero ser um missionário quando eu crescer um pouco mais", "segue o profeta sem hesitar" ou ainda "Enquanto ainda jovem sou, eu irei me preparar, pra que no Templo do Senhor, eu possa me casar" (sério, a gente ensinava isso para crianças de 4 anos). Escrevo essas letras, ainda cantarolando pq é igual a um hit chiclete. É muito difícil esquecer essas pequenas "doutrinações". Logo, quando o rapaz fizer 18 anos, por exemplo, ele vai escolher ser um missionário, afinal ele canta aquilo desde que se entende por gente.
No mormonismo há muita sutileza nas ações. Entretanto, por trás dessa sutileza há um treinamento pesado. Treinamento tão pesado que passei os últimos anos extremamente infeliz nessa igreja, mas nunca cogitei sair dela, afinal eu era muito bem treinada a saber que ela era o único caminho que me levaria a Deus um dia. E que somente através dela, eu poderia ter minha família na eternidade. Porém, assim como no filme, onde o flash causou por segundos a des-programação do rapaz, há pessoas fora do mormonismo que, sem intenção, colocam nossa mente para pensar, ainda que seja por instantes.
Certa vez, estava na casa de uma amiga do meu marido, que também era mórmon, quando chegou uma quarta pessoa não-Mórmon. Na verdade, ela era ex testemunha de Jeová. Rs. Bom, papo vai, papo vem, ela contando sobre o movimento que a fez sair dos Testemunhas de Jeová, ela solta a seguinte frase: "Porque é isso, sempre tem um americano que ora a Deus e Deus pede para ele fundar uma igreja que é Dele". Eu achava que essa história era exclusiva dos mórmons, mas não!!!!!! É a mesma história dos mórmons, Testemunhas de Jeová, Adventistas e por aí vai. Fiquei quieta, mas por alguns instantes meu cérebro foi des-programado! Aquela informação penetrou as barreiras tão bem colocadas em minha mente de recusar qualquer ideia oposta à igreja. Ousei pensar: será o mormonismo então é mentira? Guardei aquilo para mim. Porém, o costume dado a frequência às reuniões e convívio com os amigos, faz com que essas "dúvidas" vão sendo abrandadas. Mas, o que eu quero dizer, não sei se isso tem um nome na psicologia, mas existem ideias que acessam locais no cérebro que fazem você se repensar. Te chamam para a realidade!
Claro que se vc relata para seus líderes, eles mandam vc orar, cantar hino, plantar bananeira rs, faz de tudo, só não dê ouvido a qualquer voz que te incline a sair daqui. Hoje queria agradecer a essa moça, que eu não sei nem o nome, mas que de maneira despretensiosa, ajudou-me a, em outro momento, me libertar.
Uma reflexão sobre o tema Intolerância Religiosa: muito me preocupa o fato desses textos parecerem intolerantes. Sabemos a importância de garantir que todas as religiões tenham o direito de existir e serem respeitadas. Nesse sentido, esses relatos são pautados em vivências. Tenho muita responsabilidade sobre o que escrevo. Tive e tenho respeito da comunidade mórmon com a qual convivi. Quem me conhece sabe da minha índole. No entanto, o mormonismo enquanto instituição trabalha para encobrir suas verdades, sejam elas da sua história ou da atualidade. Minha mensagem é: se quiser entrar para o mormonismo, entre. Mas, entre sabendo no que está "se metendo".

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