O que passei nas mãos de um homem mórmon/Depoimentos

 

Nesse post, convidei seis mulheres para contarem suas experiências, a partir da seguinte pergunta: “O QUE PASSEI NAS MÃOS DE UM HOMEM MÓRMON”. Desde já, agradeço a confiança em abrirem sua vida, mesmo se tratando de um tema tão difícil, mas que serve para alertar sobre o modo como a igreja mórmon opera, não tirando claro, a responsabilidades desses homens por seus atos.

Depoimento 1

“Chegava a ficar dois, três dias fora de casa.”

Depois do primeiro ano as coisas ficaram bem ruins, ele sumia do radar, chegava a ficar dois, três dias fora de casa. Eu tinha certeza que estava sendo traída mas não tinha provas. Pedi por diversas vezes socorro ao bispo que dava as instruções: orar mais, mais jejum, vá ao templo e blá blá blá.
Em uma dessas vezes que ele sumiu, quando voltou tivemos uma briga horrorosa, eu não queira ele dentro de casa, eu empurrava ele pra fora ele tentava entrar e eu me machuquei nessa briga, a polícia apareceu, foi horrível.
Eu estava tão destruída que perdi meu emprego da época, por abandono à empresa. Eu não saía de casa, eu só chorava, meu rosto ficava deformado de tão inchado. E no final de cada DR, escutava do infeliz "ficaremos bem, você precisa de mim pra chamar seu nome"*.
Até que no fim, a amante da época, uma menina de 16 anos engravidou. Só assim eu tive o aval de me divorciar dele sem ter que solicitar intervenções divinas.
Algo que não esqueço é que no cartório, assinando os papéis do divórcio ele me disse: "eu sei que vou me arrepender disso, e quando eu me arrepender esteja disponível, você é a primeira esposa, isso não muda". Cara, que nojo dessa prepotência machista que o sacerdócio dá a esses machos escrotos. Depois que a poeira abaixou eu descobri o nome de três amantes dele, uma inclusive era da mesma ala que eu.
Enfim, é isso.
* No mormonismo há um ritual que diz que a mulher, no dia da sua ressurreição deverá ser chamada pelo marido, por um nome secreto dado no templo.

Depoimento 2

“Ia descansar enquanto eu ia preparar o almoço.”
Vou nomeá-lo de “Aparência do Bem”
O “Aparência do Bem”, missionário retornado, teve carta de elogios escrita seu presidente de missão lida no púlpito pelo presidente de ramo na reunião de sacramento.
Conheci na capela, logo após seu retorno de missão, e em duas semanas de namoro me pediu em casamento. Aceitei, pois como é largamente bem falado os missionários retornados e ainda mais com carta lida em púlpito. Além do que, racionalizei (meu erro) que nada podia dar errado já que ambos éramos da “igreja verdadeira” (letras minúsculas de propósito).
Construímos juntos uma casa no fundo da casa da mãe dele. Colaborei com dinheiro, pois já trabalhava. Abrimos uma conta conjunta para depositar o dinheiro para construir essa casa (quarta/sala/banheiro) bem pequena, não tínhamos muito dinheiro.
E, já nesse processo de juntar dinheiro o “Aparência do Bem” se mostrou desonesto, retirando dinheiro da conta sem me comunicar para despesa com a mãe. Por acaso, eu descobri , falei com ele e passei a monitorar a conta.
Com um ano e meio de namoro nos casamos.
Eu não tinha a cópia da chave de minha própria casa, ele e a mãe dele tinham chaves da casa.
Nessa época ainda fazia faculdade e tinha a ingrata surpresa de chegar em casa e encontrar as irmãs dele sozinhas na casa. Mesmo no início do casamento o “Aparência do Bem” dificilmente estava em casa. E, quando chegava queria que eu corresse pra abrir a porta sendo que tinha a chave.
Aos domingos, mesmo grávida tinha que esperar até ele terminar todas as reuniões pra ir pra casa. Evitava ir sozinha para casa quando estava grávida e em um desses domingos, esqueci de pegar a chave com ele e fiquei plantada na porta de casa sentada até ele chegar. Era um insulto para mim ter que pedir a chave de minha própria casa à minha ex-sogra.
Ele costumava sair e não me dizer para onde ia nem quando chegaria, com quem estava ou o que estava fazendo. E, eu ainda me preocupava dele tarde na rua. A igreja me fazia acreditar na total fidelidade do “Aparência do Bem”, afinal missionário retornado, casamento no templo, chamados importantes. Ele também costumava ficar conversando com a vizinha, até que um dia que eu chegando da faculdade, ouvi a moça falar pra ele voltar às 22h. Eu ouvi, ele ouviu e quando chegou ele comentou o que ela disse, daí eu respondi, pois eu vou só esperar você ir. Naquela noite ele não foi, não sei outro dia ou se rolou alguma coisa entre eles não tenho mais certeza de nada. Como já disse, o “Aparência do Bem” nunca estava em casa.
Eram finais de semana inteiros completamente sozinha. E, depois que minha primeira filha nasceu, eu bem fiquei seis meses sem ir para igreja, pois primeiro a dificuldade, tinha que subir uma ladeira e pegar um ônibus ou ir caminhando (mas não era perto). Ele era conselheiro de estaca nessa época, e, o presidente de estaca colocou ele responsável por uma ala bem distante, além do que tinham reuniões todo domingo às 6h da manhã. Da reunião, ele já ia direto pra essa ala distante. Ou seja, zero empatia e preocupação comigo e uma recém-nascida por parte do “Aparência do Bem” e do presidente de estaca. Além do que, não recebi nenhuma visita ou cuidado, ninguém veio ver como eu estava mesmo estando tantos meses sem ir a igreja.
Como eu queria ir à igreja, eu mesma com a ajuda de minha irmã procuramos uma casa mais próxima da capela para alugar. O “Aparência do Bem” não queria não, foi contra, mas eu fui firme e nos mudamos. Todo dia ele me atormentava pra eu voltar pra casa construída em cima da casa da mãe (detalhe: essa casa era puro mofo, quente e quando chovia entrava água pois passava um córrego de esgoto nos fundos). Até o dia que eu estava tão cansada, que disse pra ele que ele podia voltar, mas que eu ficaria ali na casa alugada.
Nós trabalhávamos juntos na mesma empresa. Era muito difícil sairmos de férias porque era uma empresa familiar. Geralmente, tínhamos folga nos dias de carnaval mas o “Aparência do Bem” preferia estar nos acampamentos da igreja (mesmo sem ter nenhuma designação). Ou seja, nem nesses poucos dias podiam ser nossos como família. E, ele ia para os acampamentos e eu ficava com minha filha em casa. Zero lazer. Nem mesmo um cineminha.
Até que compramos um apartamento financiado, nos mudamos, e na nova ala, o “Aparência do Bem” foi chamado como bispo. E, minha vida se resumia a trabalhar (sempre trabalhei, graças a Deus, apesar da pressão de membros da igreja ora pra parar de trabalhar ora pra ter filhos), ir pra igreja e cuidar de duas filhas.1
A capela ficava distante do apartamento, eu não tinha carro e até tentei voltar de ônibus uma vez, sem sucesso, fiquei horas em pé no ponto de ônibus e nenhum ônibus que servisse passou. Então retornei para capela, e aceitei que tinha que aguardar todos os domingos até quase 15h para voltar pra casa. E, ainda era cobrada pelas “irmãs” da SOC SOC à fazer visitas de professoras visitantes. Quanta pressão sofri. Já o “Aparência do Bem” , chegava em casa e ia descansar enquanto eu ia preparar o almoço, depois que almoçava , o “Aparência do Bem” saia para suas visitas e, à noite ainda tinha uma reunião em casa de membro pra leitura do livro de mórmon. Então, meus domingos eram, assim, sozinha com minhas filhas. Domingos monótonos e deprimentes.
Friso: zero lazer. Cheguei a questioná-lo algumas vezes: “Como a igreja falava tanto de famílias mas separava a nossa?”
Então, quando eu me divorciei, meu ex era presidente de estaca.
Eu já não aguentava mais frequentar a igreja, me fazia mal. Tinha pânico noturno, angustia dentro da capela e reuniões. Não sabia nada sobre a história real da igreja.
Então, lendo o novo livro da igreja chamado “Revelações em Contexto” dei me conta das incoerências e decidi sair.
Passei a faltar às reuniões, tirei os garments.
Então, a forma como fui tratada pelo ex e presidente de estaca foi horrível.
Passou a me ignorar completamente, chegava tarde da noite, não me dirigia a palavra, chegou a passar um final de semana fora sem dar qualquer explicações, foi em caravana ao templo sem nem avisar. E, sempre se rindo e conversando através de whatsapp com outra pessoa. Tinha aparência de pessoa apaixonada.
Em nenhum momento ele sentou comigo para conversarmos sobre divórcio ou pensão para nossas filhas ou divisão de bens.
Forcei com ele um acordo de pensão, que ele nunca cumpriu. Somente um valor irrisório bem aquém ao valor justo e acordado.
Tínhamos bens: terreno, carro, uma boa casa quitada, dinheiro expressivo em conta (que ele escondia o valor ) e o apartamento financiado que eu pagava. Eu estava toda endividada com a reforma do apartamento, com a escola de minha filha, com a viagem que fizemos naquele mesmo ano, plano de saúde de toda a família. Foi uma luta para haver a divisão de bens, e, boa parte somente ocorreu na justiça. E, ainda continua me devendo um valor considerado determinado em justiça mas que não pôde ser executado porque ele pôs os carros no nome da atual esposa. A casa, ele ficou morando, dificultou a venda, e, como eu estava muito endividada, fui forçada a aceitar um valor muito inferior ao valor de avaliação da casa.
Só procurou ter contato com as filhas quatro anos após o divórcio e somente porque o atual presidente de estaca investigou por conta própria e descobriu os mal feitos dele. Esse novo presidente de estaca foi quem determinou que ele procurasse se aproximar das filhas.
E descobriu sim, que antes mesmo do divórcio já sondava mulheres na igreja. O que eu desconfiava era verdade, embora ele negasse fortemente. No final, acabou desassociado e pelo que eu soube nem tem sido assíduo à igreja.

Depoimento 3

“Toda responsabilidade do lar e financeira estavam em minhas costas ”
O desafio na época era a depressão.
A igreja, pelo menos na época, pouco se esclarecia sobre esse tema. Principalmente quando o caso era o "portador do sacerdócio", era tirado como "falta de fé e de Deus"
Então, vivia com depressão ignorada, porque a gana de servir no "chamado" era maior.
Lá ele era escutado, elogiado, tirado como a resposta da oração de muitas pessoas. Mas vivia com duas personalidades. Em casa era um e na igreja O cara.
Sua depressão fazia com que ele pudesse servir fervorosamente, mas o impedia de trabalhar, cumprir com responsabilidades financeiras e outras atividades do lar. Era abusivo, se achava o 'dono da verdade', apontava e me criticava diariamente. Era tirada como a louca, estressada. Quando, na verdade, toda a responsabilidade do lar e financeira estavam em minhas costas, enquanto o portador do sacerdócio servia na passarela mórmon.
Ainda até hoje depois de alguns anos, ele é lembrando carinhosamente por seus chamados, mas pouquíssimos sabem realmente a pessoa tóxica, racista e abusiva que é.

Depoimento 4

“Fiz escolhas erradas devido a sua influência.”
Nasci e fui educada dentro dos padrões de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos últimos dias. Meu principal objetivo de vida era ter uma família eterna exaltada, conforme somos incentivados todo momento. Meus pais não tinham um relacionamento saudável e muito afetuoso. Minha mãe vivia em função do nosso lar e meu pai, uma vida dupla. Por diversas vezes, brigado com a minha mãe, pregou em púlpitos sobre família. Frequentava o templo assiduamente e atuava como oficiante de ordenanças. Chegava a hora que queria em casa, e por diversas vezes desapareceu. Minha mãe era incentivada pela liderança a exercer sua fé, ter paciência, jejuar e não desistir de seu casamento, que já se encontrava falido. Meu pai não a respeitava, diminuía a profissão que ela exercia por se achar superior e com mais instrução acadêmica. Incentivei a separação, pois não aguentava mais o convívio tóxico que existia entre nós. A experiência vivida no relacionamento dos meus pais não me trouxe desânimo, embora muito decepcionada, escolhi acreditar que poderia ser diferente comigo. Decidi me casar com um homem também criado na religião e tentar viver o meu felizes para sempre. Ele era um homem honesto, íntegro e bondoso comigo. Não tínhamos muitos problemas de convivência aparentes. Mas, fiz escolhas erradas devido a sua influência ,algumas vezes, por confiar e respeitar o sacerdócio que ele dizia portar. Muitas vezes não estava com animo para estar presentes em atividades, devido à exaustão do trabalho, mas me esforçava para apoiar o chamado exercido por ele. Preparava discursos às pressas para cobrir buracos, abdicava do nosso tempo livre para que ele estivesse presente em reuniões intermináveis, nossa casa era aberta para receber quem quer que fosse, alimentar os missionários quando não havia almoço, dentre outros sacrifícios que sempre recaíam sobre nós. Ele dispendia tanto tempo envolvido nas responsabilidades da igreja, que deixou de lado sua vida profissional, o que trouxe problemas para a nossa convivência, brigas, cobranças, desemprego e a nossa
Separação.
Sem muitos detalhes, não frequento mais a igreja por não me encaixar na lista de padrões exigida. Até tentei perseverar por um tempo, mas não estou disposta a aguardar que um belo príncipe encantado cheio de problemas me enxergue em um dos bancos e me julgue digna dele. Conheci homens honrados fora da igreja e isso fez com que a minha ilusão de que apenas aqueles homens eram capazes de fazer uma mulher feliz e realizada, saiu da minha cabeça. Me sinto em paz com a vida que escolhi viver, leve, sem cobranças, sem prazos, reuniões, expectativas e o sentimento de inapropriação. Continuo a ser uma mulher honrada, honesta e pretendo ensinar bons princípios ao meu filho para que ele não seja esse tipo de homem.

Depoimento 6

“Chegou um momento que simplesmente eu não me reconhecia mais”
Conheci a igreja com 16 anos...já tinha uma filha de 3 meses...conheci um membro da igreja e como sempre existe uma pressão pra casar ,namoramos ,noivamos e casamos em 3 meses
Logo depois percebi a burrada que tinha feito,mas já era tarde e fui levando...meu marido extremamente ciumento,e manipulador
Ficamos 18 anos casados.. tivemos um filho...e todo domingo estávamos na igreja... típica família de comercial de margarina...todos felizes mas em casa era outra história
Sempre tratou muito mal minha filha,se encomodava com a presença dela,sempre com grosserias e desrespeito...em uma ocasião ele quis bater nela já moça....voei nele como uma leoa pra defender a cria e ele me jogou no sofá
Controlava com quem eu conversava na igreja,controlava meu celular,minhas roupas,dizia que eu falava muito alto,que minha risada era escandalosa...era sempre crítica em cima de crítica.. até eliminar a minha auto estima...me sentia constantemente feia,e nada era o suficiente por mais que me esforçasse sempre me sentia culpada.
Eu tinha dois chamados e servia com todo amor.... ele era do bispado....
Chegou um momento que simplesmente eu não me reconhecia mais...me olhei no espelho e não sabia quem era eu...do que eu gostava...qual era meu propósito de vida...tive crises de ansiedade e síndrome do Pânico.... não conseguia sair de casa...tinha medo de tudo
Esse momento foi o start....o despertar....comecei a olhar pra minha vida e mergulhar em busca de autoconhecimento...fazer yoga, terapia, constelação familiar, até daime tomei.
E aí começaram os problemas...as críticas e proibições... porém quanto mais eu entendia toda aquela dinâmica, mais eu percebia que tudo que eu construí não passava de um castelo de areia...que a igreja usava a gente e manipulava de uma forma cruel demais.
Quis voltar a estudar e meu ex marido não deixava por que dizia que ele já tinha estudado por nós… Nessa época tínhamos uma loja e ele controlava tudo o que u fazia lá… pedia relatório para as funcionárias e eu era sempre vigiada… os horários que eu chegava e saía.
Até uma situação que ele teve de cobrir férias de um supervisor em outra cidade...foi quando aproveitei pra fazer vestibular...já fiz minha matrícula e paguei a primeira mensalidade sem ele saber
Quando ele chegou foi o inferno....o casamento já ia de mal a pior ...com a orientação do bispo ele me proibiu de trabalhar na loja...me demitiu...disse que ia levar meu carro no mecânico e vendeu...fiquei a pé e desempregada.
Ele não comprava comida...mal comprava iogurte e bolacha pro filho dele
Mas eu não parei a faculdade
Minha mãe me ajudava a pagar
O bispo nunca me chamou pra entrevista...me desobrigou dos chamados por me considerar indigna
E ele foi "promovido" para um chamado na estaca.
E eu era a bruxa malvada que destruiu a família perfeita.
Por fim ele vendeu a loja e a casa eu fiquei sem nada.
Mas, segui em frente.
Me formei ano passado...
Estamos separados a 3 anos
Sofri que nem uma cadela....ia pra faculdade e muitas vezes não tinha nem dois reais na carteira pra tomar um chá...quem dirá pra comer alguma coisa.
E ele ganhando vinte mil por mês.
Mas passssssooouuuuu!
Me formei...encontrei um novo amor.... completamente oposto dele...carinhoso...amoroso com meus filhos...compramos uma casa e curo todos os dias as feridas do passado.
Não consigo ir na igreja....tem pessoas muito boas lá...mas quando eu mais precisei todos viraram as costas.
Por que eu era vista como uma má influência para as mulheres da igreja.
Até hoje sou vista assim.
Mas, volta e meia tem irmãs da igreja me mandando mensagem pedindo conselhos por não aguentar mais os casamentos perfeitos e abusivos que vivem.

Comentários

  1. Muito triste tudo isso. O mormonismo não faz bem para ninguém, especialmente para mulheres.

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