Carta aberta à Sociedade de Socorro da Ala Irajá Estaca Engenho de Dentro Brasil

 


No Dia Mundial do combate à homofobia volto-me para um o lugar onde, por tantas vezes, presenciei ataques ao grupo LGBTQIA+. Nessa minha vida, já circulei em muitos ambientes e por incrível que pareça foi dentro de uma instituição religiosa onde mais ouvi ataques gratuitos (nenhum ataque se justifica) às pessoas que são homoafetivas.

Apenas para situar temporalmente os que leem, estou falando do ano de 2019 e 2020, onde minha família e eu, após haver um realinhamento regional fomos “convidados” a congregar em uma nova ala (igreja mórmon, porém em outro bairro), assim como outras famílias próximas a minha casa. E, mesmo com o desconforto do “convite” (na igreja Mórmon você não pode questionar qualquer decisão tomada por seus líderes), fomos, cada qual com suas expectativas, frequentar essa nova ala. Na Igreja de Jesus Cristo dos Santos Últimos Dias há um grupo de mulheres chamado Sociedade de Socorro, cujo lema é: “A Caridade Nunca Falha”. Bonito não é? É para esse grupo de mulheres da ala Irajá que me direciono hoje.

Caridade pra quem? Apenas para os iguais? Quem não se encaixa no padrão de qualidade mórmon tem o que de vocês? Julgamentos, apontamentos e ódio? Logo vocês, que em um contexto de mormonismo já são tão escanteadas, reforçam esse comportamento de segregação. Qual é o prazer que vocês têm em praticar homofobia? Qual é a ameça que os homossexuais representam pra vocês? A doutrina mórmon já é cruel demais para quem acredita no mormonismo, mas tem que lidar com o fato de ser gay. Vocês precisam tornar esse cenário ainda mais perverso?

Lembro de cada vez que ia assistir a aula de vocês, pensava: hoje será boa! Hoje vou aprender alguma coisa que faça valer a pena o fato de acordar tão cedo para estar ali. Mas, não! Sempre havia um desvio nos debates para atacar. Um horror! “Nunca iria em um casamento de duas pessoas do mesmo sexo”. “Posso até respeitar, mas não sou obrigada a concordar”. “Um filho meu nunca traria um namorado em casa, essas coisas só da porta pra fora”. Era assim, semanalmente. E eu me pergunto, por que eu nunca levantei a voz contra vocês? Por que eu me acovardei? Hoje tenho forças para escrever e fazer esse enfrentamento, que embora tardio, traz o alivio de saber que não falo só por mim que consegui sair dessa igreja, mas por pessoas com fé genuína que continuam aí, passando raiva cada vez que são silenciadas, que não concordam com o preconceito de vocês, mas estão aí, focando em uma salvação vindoura.

Vocês não representam Cristo. Desconfio que Cristo não seja assim. Cristo não tem prazer em apontar o outro. Nessa igreja que se diz “perfeita, os homens que são falhos”, quero dizer que vocês falharam! Repensem! Vão estudar algo além dos livros da igreja. Conheçam pessoas além dessa bolha de perfeição que vocês criaram na cabeça de vocês. Perfeição que as fazem sentir-se melhores, nesse mundo de gente “pecadora”. É duro ouvir a crítica, não é? Pesado, não? Para mim é libertador falar diretamente para vocês. Foi aproximadamente um ano de silenciamento congregando com vocês e percebendo o quanto aquela sala era um ambiente tóxico.

Encerro aqui desejando que esse cenário tenha ficado no passado de vocês. Que os debates atuais sobre a homofobia e a relação que o ódio tem nas taxas de crimes contra pessoas LGBTQIA+ tenham chegado até vocês e que entendam a responsabilidade que carregam ao ensinarem diante de uma organização religiosa que leva tão a risca tudo o que é ensinado por suas líderes. Encerro com lágrimas nos olhos porque isso não deveria acontecer dentro de uma IGREJA e em lugar nenhum. Ninguém deveria ser odiado por simplesmente amar.

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